De carro pelas estradas do Sul do Brasil e oeste do Uruguai: rumo às termas uruguais e brasileiras
Muitos gaúchos conhecem o trajeto por via terrestre de Porto Alegre a Montevideo, capital do Uruguai, cruzando a fronteira pelo
Chuí ou por Jaguarão. No país vizinho, Punta del Este, famoso balneário próximo
a Montevideo, é parada possível neste percurso, assim como Punta del Diablo,
mais perto da fronteira com o Brasil, La Paloma e Cabo Polônio. Este último,
destino com aventura para quem quer conhecer uma região ainda remota da costa
uruguaia e famosa pelos lobos marinhos, dificuldade de acesso com seu próprio
carro e autenticidade.
A visita dos porto-alegrenses à região das termas uruguaias, no oeste do país, entretanto, é um pouco menos frequente (embora você certamente vá encontrar muitos brasileiros por lá, especialmente os residentes na fronteira). Neste caso, saindo de Porto Alegre, o percurso mais comum é dirigir aproximadamente 500 quilômetros até Santana do Livramento e entrar no Uruguai por Rivera, ou seguir um pouco mais até Quaraí e ingressar no país por Artigas (esta cidade a uma distância em torno de 600 quilômetros da capital gaúcha). Há ainda opções como dirigir mais uns 180 quilômetros após Quaraí e chegar ao Uruguai em Bella Unión, cruzando a fronteira na cidade gaúcha de Barra do Quaraí. Neste local, você estará na tríplice fronteira Brasil, Uruguai e Argentina. Destas cidades até as diferentes termas uruguaias, as distâncias são variadas, mas o percurso tem características bastante similares.
A BR290, pela qual você vai trafegar boa
parte do percurso de Porto Alegre a Santana do Livramento, é alvo de críticas e
protestos dos motoristas por suas condições já há muito tempo. Até Pantano
Grande (sim, o corretor ortográfico protesta, mas de fato não há acento e a
tônica é na segunda sílaba) o trânsito é pesado, em geral, e a maior parte do
percurso em pista simples, com tráfego intenso de caminhões, etc. O movimento
aos poucos diminui (embora a qualidade do asfalto siga um marketing pouco convidativo
ao turismo no Rio Grande do Sul) e, a partir de Rosário do Sul, a tendência é
uma estrada praticamente vazia. Esta característica pode surpreender visitantes
de outras regiões brasileiras mais movimentadas e marca os percursos próximos à
fronteira Brasil – Uruguai, bem como boa parte da malha rodoviária no país
vizinho. São longos trechos de estradas, muitas retas, planícies a perder de
vista e pouquíssimo movimento.
As cidades fronteiriças oferecem como
atrativo extra os chamados Free Shop, com opções de compras sem impostos para
brasileiros, que você encontrará com maior diversidade em Rivera, mas também em
Artigas e Bella Unión. Cabe lembrar, entretanto, que por regra você deve
aproveitá-los na volta ao Brasil, em teoria não é possível ingressar no país
vizinho com as compras feitas nestas lojas. Na cidade em que você cruzar a
fronteira, deverá também fazer os trâmites migratórios, saindo oficialmente do
Brasil e ingressando no Uruguai. É preciso lembrar que este é um procedimento
obrigatório, embora a fiscalização não seja uma característica marcante. Se
estiver de carro, você deverá, ao oficializar sua entrada no Uruguai, também
apresentar a “carta verde”, seguro obrigatório contra terceiros que se pode adquirir previamente com sua própria seguradora ou comprar de outras (algumas
já contam com o serviço incluído em sua apólice, vale conferir). Em todo caso, é
mais seguro viajar já com o documento providenciado e lembrar que você pode
chegar mais cedo ou sair depois do previsto das terras uruguaias. O valor para
acrescentar um dia na ida e outro na volta não é excessivo e considero que pode
ser uma boa ideia. Sempre faço isso.
Em Rivera, o acesso aos serviços
migratórios está atualmente localizado no Shopping da Siñeriz, único local para
compras que você encontrará aberto até as 20h, após o encerramento das demais
lojas no centro da cidade, as 18h na maior parte dos dias do ano. Vale deixar
uma visita ao local para o final da tarde e já dar um pulo nos espaços das
polícias brasileira e uruguaia. O procedimento é muito simples e pouco
burocrático, normalmente rápido se você estiver com seu documento de identidade
ou passaporte, bem como documentos do carro e carta verde. Se não for carro
próprio, você precisará providenciar a autorização oficial do proprietário do automóvel
e este é um cuidado a observar: a maior parte das locadoras de veículos no sul
do país não autoriza que você atravesse a fronteira com carro alugado, portanto
se sua ideia for viajar até Porto Alegre (ou outras cidades como Uruguaiana, na
fronteira com a Argentina, que também recebe vôos de outras cidades
brasileiras) de outra cidade do país e seguir desta capital para o Uruguai com
um veículo alugado, confira se a empreitada é prevista na locadora de sua
escolha. Menores de idade também precisam estar com os responsáveis ou cumprir
as exigências legais para viagens internacionais.
A fronteira Santana do Livramento - Rivera
é uma experiência curiosa para quem não está acostumado. Do tipo “fronteira
seca”, tem como linha divisória entre Brasil e Uruguai o canteiro da avenida.
Há marcos no meio desta, nos quais você estará de um lado no Brasil e, de outro,
no Uruguai. Em tese, poderá experimentar estar com um pé em cada país. Se você
usar um navegador como o Waze ou Google Maps e colocar como destino um hotel já
na parte uruguaia da zona urbana, muito provavelmente vai cruzar a fronteira
sem se dar conta, sendo surpreendido por “calles” com nomes em espanhol
repentinamente. Portanto, lembrar-se de que está em território estrangeiro
(ainda que muitíssimo amigável) e oficializar sua entrada no país vizinho é um
cuidado a tomar, se você for seguir pelas estradas uruguaias a partir daí.
As fronteiras em Quaraí – Artigas e Barra
do Quaraí – Bella Unión, caso seja sua opção dirigir um pouco mais do que o trecho
Porto Alegre – Santana do Livramento/Rivera, você vai atravessar por pontes
sobre o Rio Quaraí, que faz a divisa entre os dois países nesta região. Os
trâmites imigratórios também estão bem indicados e não são complicados nestas
cidades.
Até aqui, você absolutamente não precisa se
preocupar com idiomas. É impressionante o bilinguismo da maior parte dos
habitantes da fronteira e, em muitos casos, você custará a reconhecer nos
uruguaios o “sotaque” quando conversarem com você em português. “Gracias” vem
sempre bem, mas pode ter certeza, o português deles muito provavelmente será
melhor que seu espanhol e a conversa pode ser feita em seu idioma.
Especialmente nas lojas free shop, hotéis, restaurantes e locais turísticos.
Em todas estas cidades de fronteira, você
encontrará uma rede razoável de pousadas e hotéis brasileiros e uruguaios para
se hospedar e a parada em um deles, para quem vem de Porto Alegre, pode ser uma
ótima ideia. Santana do Livramento – Rivera têm mais opções e, de modo geral,
mais locais sofisticados disponíveis, se esta for sua opção. E também
hospedagens mais simples, a variedade é grande e contempla todos os bolsos.
É importante também lembrar que seu plano
de saúde provavelmente não cobre eventos em solo estrangeiro, então um seguro
de viagem é um custo adicional em seu orçamento do qual você muito
provavelmente não deve abrir mão antes de cruzar a fronteira e trafegar por
solo uruguaio. Há diversas companhias que fazem o serviço e hoje em dia você
compra o plano de sua preferência inclusive pela internet.
Para quem segue para o oeste uruguaio, se
você parar em Santana do Livramento – Rivera, pode optar, a essa altura, por
chegar à região das termas diretamente pelas estradas uruguaias, iniciando o trecho pela
Ruta 5, ou seguir pelo Brasil até Quaraí e aí ingressar no Uruguai. Alternei as
opções na ida e na volta (janeiro de 2024) e não vi grande diferença.
Uma vez no Uruguai e, se possível descansado, após uma boa noite de sono, as estradas de mão simples continuam (em geral sem acostamento) mas o asfalto melhora, e muito, em relação ao Brasil. Já não foi assim, até alguns anos atrás os próprios uruguaios aconselhavam o percurso pelo Brasil, mas atualmente a estrada uruguaia está em boas condições.
A sensação de estar só na estrada se
intensifica e não é incomum dirigir durante 10 ou 15 minutos sem cruzar com
absolutamente nenhum veículo em qualquer das direções, especialmente após
deixar a Ruta 5 (que se você seguir vai até Montevideo). Fazer o percurso
durante o dia, portanto, pode ser uma opção mais tranquila. Você também não vai
encontrar estrutura ao longo das estradas, portanto é bom conferir as condições
do seu carro e abastecê-lo antes de iniciar a viagem. Na época desta viagem, a gasolina era mais cara no Uruguai do que no Brasil, se olharmos o valor bruto, mas se você
pagar com seu cartão de crédito internacional emitido aqui contará com o
desconto de IVA para brasileiros a turismo no país, que chega a 24% dependendo
do serviço (abastecimento, hotéis, restaurantes, entre outros). A devolução é
feita na fatura do seu próprio cartão de crédito. Também vale lembrar que no
país vizinho a adição de álcool na gasolina é menor, de modo que ela rende mais,
você consumirá menos combustível do que para a mesma quilometragem no Brasil.
Postos de gasolina absolutamente não são
frequentes nas estradas desta região e o viajante pode passar apertos se
necessitar dos mesmos. Assim como restaurantes, sanitários, serviços de
mecânica, borracharias, etc. É bom iniciar a viagem preparado para um trajeto
relativamente longo sem paradas. O combo posto de gasolina/loja de conveniência
definitivamente não é algo a esperar das “rutas” uruguaias no oeste do país.
Para minha surpresa, o que encontrei em quase toda a estrada foi sinal de
internet, de modo que é possível que em uma necessidade você consiga contatar
guincho, seguro, etc. Isto felizmente não precisei testar. Aliás, confira se
sua operadora de telefonia e seu plano cobrem o deslocamento para o país
vizinho e considere a inclusão deste serviço, ou você pode ter uma surpresa
bastante desagradável na hora de receber sua fatura. Seu celular vai funcionar
a partir de uma operadora local e se a cobertura não estiver incluída, o valor
pode ser salgado.
Cabe dizer, entretanto, que dirigir nestas
estradas é delicioso. A paisagem é absolutamente rural e praticamente só composta
por planícies, cortadas por eventuais rios e pequenas cidadezinhas esporádicas.
A experiência, ao menos na minha opinião, muito gratificante. Na maior parte
dos trechos, a velocidade limite é 90 km/h e é preciso cuidado para não se
empolgar e ultrapassá-la, de modo geral é bastante confortável percorrer as
“rutas” das cidades mencionadas até as diferentes regiões das termas uruguaias.
Se você colocar em um navegador o trecho Santana do Livramento – Salto, escolhendo a estrada pelo Uruguai já a partir de Rivera, por exemplo, vai encontrar uma distância de mais de 300 quilômetros. Parece muito, mas é fácil fazer este trecho, na prática é bastante tranquilo e uma viagem provavelmente bastante fluida. Mas para qualquer motorista padrão, sem um senso de direção e localização acima da média, a utilização de um navegador como apoio é bastante conveniente. Bendita tecnologia.
Um aspecto a considerar nesta viagem é o
pedágio, que no Uruguai atualmente não pode mais ser pago em efetivo. Você
precisa, portanto, baixar o aplicativo do Telepeaje, cadastrar seu carro e
colocar créditos. Ou pode parar no posto da companhia na Ruta 5,
aproximadamente uma hora após cruzar a fronteira a partir de Rivera, onde terá
todos os auxílios para fazer isso e efetuar o pagamento. Mas obviamente você
precisará de um cartão de crédito (ou débito) internacional, os pedágios
uruguaios não aceitam mais, já há alguns anos, pagamento em papel. Aliás, uma
característica da viagem por estas redondezas... Levei pouquíssimo dinheiro em
efetivo e voltei para o Brasil sem usar absolutamente nada, os gastos todos
foram pagos em cartão de crédito ou de débito internacional (utilizei o Wise e não
tive dificuldades neste sentido). Lembre-se, no entanto que, apesar dos
descontos para brasileiros (que compensam e normalmente ultrapassam as
desvantagens), ao utilizar no Uruguai um cartão de crédito você pagará a taxa
de IOF – 5,38% em janeiro de 2024, contra 1,1% no caso de pagamentos com cartões como Wise
ou Nomad na função débito.
No caminho para casa e já no Brasil: Termas Amsterland e Termas Romanas Recanto Maestro
Saindo das termas uruguais e rumando para a capital gaúcha, você ainda pode, após cruzar a fronteira de volta para o Brasil, caso ainda tenha disposição para isso, conhecer os parques termais próximos a Santana do Livramento e, com um pequeno desvio no caminho para Porto Alegre, as termas próximas a Santa Maria, em Restinga Seca.
Inauguradas há aproximadamente 5 anos, estão situadas a aproximadamente 12 quilômetros do centro de Santana do Livramento e se apresentam como um complexo turístico termal com praia própria e diversas opções de lazer. Mas ainda sem hospedagem funcionando nas redondezas, a alternativa é ficar na cidade, em Rivera ou outros hotéis nas proximidades. Há diversos empreendimentos previstos para oferecer alojamento na região e provavelmente nos próximos anos o local poderá ser uma opção interessante de parada entre Porto Alegre e as termas uruguais, já entrando no clima. Ainda não conheci.
Termas Romanas Recanto Maestro
Situadas a pouco mais de 30 quilômetros de Santa Maria, contam com diversas piscinas e atividades de lazer, como toboáguas. Há hotéis praticamente junto às termas, com ótima estrutura e atendimento, que contam com translado para o parque e vistas do campo e arredores. Simpáticas, vale a visita.
Concluído o passeio termal, em poucas horas você pode estar de volta a Porto Alegre, revigorado pelo relaxamento proporcionado pelas águas e parques aquáticos e até mesmo pelo passeio pelas estradas desertas e cercadas de campos você terá conhecido dirigindo no Uruguai e nas áreas próximas à fronteira.
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