Viajar com crianças: 20 aspectos a considerar para suas férias em família


Você pode visitar cidades como Lisboa, Nova York ou São Paulo quando tem vinte e poucos anos e em momento algum perceber que as pracinhas fazem parte da paisagem urbana. Ou nunca ter cogitado conhecer a seção dos museus, nestes locais, destinada às crianças. E nunca lhe ocorreria procurar a área lúdica a beira de um rio que corre entre as montanhas da Alemanha. Também pode jamais ter se preocupado em escolher vôos diurnos ou noturnos, saber onde ficam farmácias e conferir que hotéis são mais receptivos aos pequenos. Mas acredite, se você viaja com crianças, um novo universo passa a fazer parte de seu contexto de férias. E estas informações provavelmente se tornarão tão ou mais importantes em seu planejamento e rotina de viagem quanto a lista dos melhores restaurantes a experimentar ou espetáculos a assistir.


Estabelecer, desde o início da vida, momentos viajando com seu filho, pode ser uma maneira importante de legar a este experiências, além de flexibilidade, facilidade para transitar em diferentes culturas e locais com características diversas e mesmo formar um cidadão cosmopolita. Sem dúvida, viajar desde pequeno muito provavelmente fará de seu filho alguém tão interessado na experiência quanto você, e o modo como faz isso pode também auxiliá-lo na criação de um estilo de viajante e prepará-lo para experiências futuras.

Para que férias com crianças possam ser mais interessantes para todos e oportunidade de gerar momentos de lazer e estreitar laços, talvez algumas considerações possam ser importantes. Aqui compartilho algumas destas, elaboradas como mãe de uma viajante que desde cedo desbravou caminhos em suas férias, aliadas ao meu percurso profissional como psicanalista, com o trabalho em boa parte voltado para os pequenos.


1. Um dos aspectos importantes ao pensar em férias com crianças é considerar que, obviamente, este pequeno sujeito que agora acompanha você em suas viagens tem seus interesses, necessidades, estilo próprio. Em grande parte, a experiência mostrar-se prazerosa ou desgastante para ele dependerá de como você a administra, se você está relaxada e feliz, maior chance de que ele esteja também. Mas não espere incluir uma criança em seus planos de viagem sem levar em conta suas características e as especificidades da faixa etária. O simples fato de você gostar de Salvador, Los Angeles, Paris ou Berlim certamente não vai garantir que seu pitoco também sinta a mesma atração por sua cidade preferida. Então inclua programações infantis no seu roteiro. Mas lembre-se de que um museu ou seção deste voltada para crianças pode ser incrível, mas muitas vezes será tão divertido para seu pitoco quanto a pracinha da esquina ou escalar o muro da casa na qual você está hospedado...

 
Deutsches Museum, Munique

2. Vale considerar que tipo de experiência você quer ter com a criança. Talvez estejam em um momento em que uma viagem para o litoral, com permanência durante 15 ou 20 dias em um local apenas, seja o que vocês precisam. Aproveitar a praia e o mar, relaxar na rede, construir castelinhos, tomar sorvete, caçar siris. Por outro lado, pode ser que queiram trilhar caminhos por cidades ou países desconhecidos, deslocando-se a cada poucos dias. De uma forma ou outra, muito válido, desde que as necessidades e interesses de todos sejam contempladas.


 3. A forma de deslocar-se também é algo a considerar. Vôos, por exemplo, diminuem o tempo de viagem, mas geram desgaste de trâmites em aeroportos e horários a cumprir, enquanto de carro você terá maior flexibilidade e possibilidade de adaptar sua viagem com seu filho, fazendo paradas estratégicas conforme as necessidades de todos. Uma combinação de mais de uma alternativa muitas vezes é uma boa possibilidade, com deslocamento aéreo para os trechos maiores e terrestre para destinos próximos ao local em que aterrissaram, caso em que o aluguel de um carro pode ser interessante. Para auxiliar nos longos trajetos, a fórmula "elementos familiares que tragam segurança aliados à novidades que estimulem e distraiam", funciona sempre (ou quase, como tudo que se refere às crianças e a previsibilidade). Então, não deixe de reservar na mala espaço para brinquedos e objetos que auxiliam seu filho a relaxar e sentir-se seguro, mesmo que muitas vezes as escolhas possam parecer desproporcionais ao espaço que você tem para a bagagem.


4. Também considere as características de seu filho no que diz respeito à tolerância a tempos longos sem muitas novidades, a facilidade com que dorme ou se entretém com jogos e brinquedos, como se sente durante vôos e eventuais desconfortos que possa ter em experiências desta ordem, como enjôos em deslocamentos de carro, etc. A partir disso, você pode optar, por exemplo, por um vôo noturno ou diurno, em viagens intercontinentais ou de mais longa distância. E coloque na bagagem de mão lápis de cor, massa de modelagem ou biscuit ou outros materiais que possam auxiliar a entretê-lo. Por outro lado, talvez se surpreenda ao descobrir que seu filho lida com estas questões de forma tranquila, e até é capaz de divertir-se nestes momentos...


5. Escolher o roteiro é importante e, muitas vezes, também uma atividade que pode envolver a família toda. Evidentemente você não vai delegar a seu filho aspectos como a previsão orçamentária para as férias, mas ele estar ciente de que os gastos devem ser considerados e opções precisam ser feitas para tornar uma viagem viável, pode ser interessante e um grande aprendizado. Cidades a visitar e o que atrai cada um, como detalhamento de um roteiro, também pode ser considerado. Se sua filha está na fase de adorar princesas, por exemplo, uma viagem para a Europa precisa incluir castelos e elementos do tema na programação...


6. Ao mesmo tempo, unificar destinos em uma proposta única pode ser interessante. Com crianças maiores, por exemplo, conhecer locais relacionados a uma determinada história, série ou filme, bem como cenários de eventos que estudaram ou pelo qual demonstram interesse pode tornar a viagem instigante para estas. E também para os pais. Uma viagem temática pode ser interessante e propiciar momentos de aprendizado e diversão. Conhecer a cidade natal de seu personagem favorito, por exemplo, seguindo um roteiro conhecido em um livro, filme, série, pode tornar a proposta mais empolgante.


7. Redimensione o ritmo da viagem. “Fazer” Londres em dois dias provavelmente não será uma experiência agradável para uma criança, especialmente se demandar acordar cedo e cumprir um cronograma fechado, conhecendo vários museus. Mas você pode negociar prioridades e parcelar experiências. Portanto, vale combinar que pela manhã irão a um local que é de grande interesse seu e, à tarde, será a vez de seu pequeno ser contemplado com uma visita a um parque ou zoológico.


8. Muitas cidades contam com experiências voltadas especificamente para crianças e vale a pena uma boa pesquisa neste sentido. E se estas possibilidades jamais haviam passado pela sua cabeça ao conhecer uma cidade, lembre-se que para seu filho, uma pintura do Rembrandt pode ser bem menos interessante do que a pracinha ou o museu do Playmobil. Se as férias são de todos, as prioridades do seu pequeno também precisam ser consideradas e, mesmo que pareça um desperdício de tempo passar duas horas em uma pracinha em uma viagem para Roma, os efeitos para seu filho serão importantes e a experiência de viagem e memórias da mesma se tornarão muito mais interessantes.

Rijskmuseum, Amsterdam

Arredores do Louvre, Paris

9. Por outro lado, formar apreciadores de arte e cultura exige trabalho compartilhado. Você pode incluir o Louvre em sua visita a Paris, mas não planeje uma estadia de um dia inteiro. Para uma criança pequena, um roteiro em um museu de uma hora ou duas já será um desafio. Combine um percurso ou seção que gostariam de visitar e estude obras que podem ser de interesse da criança. As vezes, um simples percurso até a mesma poderá representar para você um passeio por um museu que há muito gostaria de conhecer e, para a criança, funcionará como a busca por um tesouro cujo encontro proporcionará diversão e alegria. Grandes museus muitas vezes oferecem atividades específicas para crianças e pode ser interessante incluí-las em sua visita, sempre lembrando que, se seu filho não é fluente em inglês, alemão, francês, etc, você terá que auxiliá-lo nestas atividades em locais no exterior.
MASP, São Paulo

10. Inclua seu filho na organização das atividades do dia e convide-o a participar das tarefas necessárias durante o período fora de casa. Auxiliar você nas compras em um supermercado, por exemplo, pode ser divertido e proporcionar um momento de conhecer produtos e costumes locais. Contar com a participação da criança para registrar os momentos importantes para vocês também pode ser interessante.

 

11. Interesses compartilhados pela família podem ser formados e os antigos contemplados em uma viagem. Verão ou inverno, campo ou grandes cidades, certamente será possível uma viagem prazerosa se todos estiverem dispostos a aproveitar juntos. Eventualmente, porém, pais e pitocos podem optar por experiências separadas e, neste caso, a parceria com familiares e amigos que possam passar algum tempo em companhia da criança, em uma viagem, ou a escolha de hotéis ou estabelecimentos com atividades recreativas realizadas por equipes de confiança, podem ser pensadas na hora de planejar um roteiro ou local de estadia.


12. Neste sentido, a disponibilidade de realizar atividades junto com a criança pode ser importante, mas abrir a possibilidade de que se experimente sozinha também fará de seu filho alguém mais confiante e capaz de lidar com novas situações. Estimule-o a experimentar-se, sempre incentivando a avaliar também aspectos como a segurança e a preparação para a aventura.


13. Assegure-se de que o que é importante para uma viagem mais tranquila seja considerado. Medicações que seu filho costuma tomar ou mesmo que possa vir a precisar e, muitas vezes, de difícil obtenção longe de casa, podem ser levadas, converse com o pediatra sobre um pequeno acervo útil em caso de imprevistos. Avalie também recursos que possam ser importantes para tornar a rotina de viagem mais fácil. Um carrinho, por exemplo, se você vai realizar grandes trajetos caminhando ou visitar pontos de dimensões mais amplas, pode ser um elemento importante na mala, mesmo que para crianças maiores. Da mesma forma, cadeirinhas para carro, se você for locar um, podem ser alugadas (normalmente pode até valer mais a pena comprar, dependendo do local), mas você também pode levar a que a criança costuma usar.


14. Considere também a facilidade ou dificuldade com que seu pequeno lida com situações de sono ou fome, por exemplo, e lembre-se de paradas estratégicas durante um dia que demande mais energia. Se possível, evite roteiros que exijam de seu filho mais do que ele está pronto para usufruir...


15. Confira a documentação necessária para a viagem com crianças e vacinas exigidas e certifique-se de que este aspecto está sob controle. E lembre-se de colocá-la em sua bagagem, você não vai querer chegar no aeroporto e descobrir que se esqueceu do documento de identidade ou passaporte!


16. Converse com seu pitoco, explique o que acontecerá na viagem, como será o roteiro e quanto tempo vão ficar longe de casa. Pedrinhas marcando a equivalência com dias ou um calendário podem ajudar a dimensionar o tempo, com crianças pequenas. A confecção de um calendário com a crianças ajudará que entenda quanto tempo falta para a viagem e o número de dias envolvidos. Escute seu filho e veja que dúvidas ele tem, esclarecendo as que puder. Não esqueça que, muitas vezes, aspectos absolutamente prosaicos para um adulto podem gerar ansiedade para a criança (como saber se o hotel tem banheiro, o que vão comer, como vão se deslocar, se o vôo de avião é perigoso, se poderão conversar pelo telefone com os avós, etc). Por outro lado, elementos da viagem como horários de embarque, orçamento ou estar em um país estrangeiro, que para os pais podem representar preocupações, para a criança muitas vezes são indiferentes ou até divertidos. Desses “detalhes”, eles as vezes simplesmente confiam que os pais cuidarão. Avalie com seu filho e, se necessário, faça uma lista prévia, que brinquedos ou objetos gostaria de levar e negocie, caso as escolhas tomem proporções inadministráveis. Explique a introdução de elementos que possam representar novidade, como um idioma diferente ou o mar, se seu filho nunca teve a experiência de ir a praia, a neve e o frio, etc.


17. Como regra geral, entendemos que algumas rotinas são importantes para as crianças e as férias muitas vezes representam para os pais preocupações neste sentido. A manutenção de algumas delas é importante para a criança, mas muitas vezes, muito mais relevante do que a hora exata para almoçar ou dormir, é a tranquilidade proporcionada no momento e a inclusão de elementos preparatórios. Portanto, se seu filho costuma ler com você antes de dormir, por exemplo, levar livros de que ele gosta ou mesmo adquirir alguns no local de destino pode ser uma boa ideia. E mesmo que vocês estejam dormindo em horários e locais diferentes de casa, a atividade garantirá o sentido de previsibilidade e permanência de que as crianças tantas vezes sentem falta.


18. Pode ser importante também combinar com a criança flexibilizações de normas apresentadas no cotidiano fora das férias como inabaláveis. Talvez a hora de dormir possa ser um pouco mais tarde, a alimentação menos regrada, telas permitidas em trajetos longos, entre outras. Algumas das regras podem até mesmo ser temporariamente suspensas e acredite, muito provavelmente seu filho entenderá a diferença entre o funcionamento de sua rotina no dia a dia e as adaptações proporcionadas pelas férias não representam ameaças a retomada posterior das mesmas. Talvez, algumas regras possam até mesmo ser abolidas, em caráter de excepcionalidade, e isto demarque não apenas concessão a elas, mas flexibilidade e especificidade dos tempos de férias, também útil caso surjam dificuldades...

19. As horas de descanso, numa rotina de férias que preveja programações variadas, também são importantes. Aquele tempo “de não fazer nada” de que você provavelmente sente falta, também pode ser relevante para seu pitoco. Então, inclua na rotina de uma viagem longa ou com ritmo mais acelerado momentos, ao final do dia por exemplo, em que a criança possa ocupar-se com seus brinquedos, ou atividades que costuma utilizar como elemento de tranquilização. Se para a família toda esta é uma possibilidade de diversão, jogos também podem ser uma alternativa, e alguns são fáceis de incluir na mala.


20. Lembre-se que o planejamento e a inclusão da criança neste pode ser importante, mas não se esqueça de que adaptar-se ao inusitado também pode ser uma forma importante de aprendizado para todos. Seu filho vai lidar melhor com os imprevistos se você conseguir manter a calma e, se possível até o humor diante deles.


Por fim, mais do que tudo... considere as necessidades e interesses da criança, mas não esqueça de se divertir também... As trocas entre você e seu pitoco podem ser mais importantes do que conferir todos os pontos turísticos do destino e, talvez, você descubra que aquele zoológico de uma cidade que antes você conhecia apenas pela diversidade cultural pode ser muito interessante também. Então, boa viagem para todos, hora de aproveitar as férias da família!


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