Rota do Mosel: um passeio pela Alemanha dos cenários românticos, vilarejos e vinhedos



Um passeio pelas cidadezinhas, estradas e montanhas às margens do rio Mosel é uma imersão nos cenários da Alemanha que a gente imagina quando pensa neste país e quase se surpreende ao descobrir que, de fato, existem mesmo. Com importante história, paisagens pitorescas e casinhas de enxaimel, a região encanta e oferece aos viajantes uma experiência deliciosa e contato com diferentes elementos da cultura alemã. A região do Mosel também é famosa pelos vinhedos, que dão à paisagem um toque pitoresco e ao paladar uma oportunidade inesquecível, com vinhos que podem acompanhar os sabores da gastronomia local.

O rio Mosel nasce na França e atravessa Luxemburgo, antes de chegar a Alemanha e se tornar um dos principais afluentes do Reno, após um percurso de mais de 500 quilômetros de extensão. O trecho turístico alemão percorre 130 quilômetros entre as cidades de Trier e Koblenz. Sem dúvida, uma viagem para fazer com calma, degustando o ritmo tranquilo e os cenários magníficos que se vai encontrando por todo o caminho.


A região me encanta não só pelas paisagens e sabores, mas por ser a origem dos meus antepassados que imigraram da Alemanha para o Brasil, há muitas décadas, liderados por uma corajosa viúva de 53 anos com seus filhos, noras e netos. O feito é comemorado periodicamente nas Melchiorsfest, que chegam a reunir mais de 100 participantes hoje espalhados principalmente pelos estados do sul e centro-oeste do Brasil. Visitar o Mosel, portanto, traz para mim uma experiência afetiva importante e reforça a sensação de encontrar, nas curvas de um rio, cenários que após tantas menções em histórias e relatos, leituras de diários de viagem e cartas de antepassados,  parecem adquirir contornos de irrealidade. Visitei trechos diferentes da rota do Mosel ao longo dos anos e sempre procurando mais experimentar as possibilidades de cada local com tranquilidade do que marcar como vistas as diversas cidadezinhas da rota. Algumas, entretanto, são especiais e foi muito gostoso revê-las em momentos diferentes.

A viagem mais recente e impactante ao Mosel fizemos ao final de 2022, com a inusitada experiência de passar na região o Natal e visitar alguns mercados natalinos, os famosos Weihnachtsmarkt. Foi parte de uma viagem mãe e filha maior e chegamos na região por Cochem, vindas de Amsterdam, com paradas pelo caminho e visita prévia a Aachen, já que lá tem lugar um dos mercados de Natal mais famosos da Alemanha.

Cochem foi nossa escolha como base para os passeios pela região do Mosel, por ser uma das cidades mais simpáticas, com certa estrutura turística, mas pequenina. Foi o cenário que escolhemos para este Natal alemão. O que alias, cabe mencionar, é uma experiência incrível, mas a realizar com certo planejamento. Na Alemanha é feriado do dia 24 de dezembro até o dia 26 e nada, mas absolutamente nada, se encontrava aberto. Nós estávamos em um apartamento alugado e, portanto, isso não foi um problema, mas seria se precisássemos, por exemplo, encontrar um restaurante disponível no período, na cidade. Não há. Portanto, se você não é do tipo que, como eu, gosta de ir para a cozinha e realizar experiências (quase sempre tentando, mais ou menos infrutiferamente, elaborar algum prato da culinária local), melhor escolher uma cidade maior para passar o Natal. A título ilustrativo: durante o feriado, descobri que precisava de um shampoo, coisa que no Brasil se adquire facilmente em qualquer mercadinho ou farmácia, mesmo em cidades pequenas e durante feriados. Pois não havia nenhum estabelecimento aberto onde pudesse encontrar produtos deste tipo. O jeito foi esperar o feriado natalino terminar. 

Sugestão de roteiro em uma viagem pelo Mosel

Um roteiro abrangendo alguns dos principais pontos turísticos do Mosel, poderia, otimizando deslocamentos e incluindo cidades importantes, partir de Trier, passando por Bernkastel-Kues, Traben-Trarbach e pequenas cidades como Zell e Briedel, chegando a Cochem e concluindo a viagem em Koblenz. Há muitos lugares pitorescos e cenários impressionantes no percurso entre as cidades mencionadas também, mas estas são provavelmente as mais turísticas e possíveis bases para conhecer as redondezas. 

Destas cidades, fui a Trier e Bernkastel-Kues em viagens anteriores, as demais conheci em 2022 e nunca cheguei a Koblenz, que espero um dia visitar. Fomos, também, a Zell e Briedel, entre Traben-Trarbach e Cochem, que são muito simpáticas, mas incluímos no roteiro mais pela importância na história familiar do que pela relevância turística. Também vale mencionar que em todas as viagens estive na região no inverno, o que a meu ver é uma vantagem, visto que adoro frio e neve mas, certamente, restringe algumas experiências que a região oferece no verão. Alguns parques e castelos, inclusive, estavam fechados nas vezes em que estive por lá. 

No verão, uma experiência interessante na rota do Mosel, segundo outros viajantes da família que visitaram a região nesta época, é participar de uma Weinfest, festas celebradas em várias cidades da rota, aproveitando a oportunidade de atividades ao ar livre e, é claro, a degustação dos excelentes vinhos locais. Por outro lado, cidades como Cochem, adoráveis no inverno, ficam absolutamente lotadas nas férias de verão alemãs. Portanto, pros e contras a considerar ao escolher a melhor época para viajar.

Percorrer a rota de carro é uma boa opção. Me parece que um meio de locomoção diferente prejudicaria bastante a experiência, visto que, na região, o deslocamento muitas vezes é tão ou mais interessante do que o destino. Descobrir paisagens, restaurantezinhos, fazer caminhadas à beira do Mosel no calçadão que o acompanha em quase todas as cidades e visitar vinícolas pelo caminho, bem como poder parar em qualquer curva da estrada ou diante de paisagens pitorescas na rota, torna uma viagem à região muito mais saborosa e típica. Mas não é impossível percorrer os trechos de ônibus, certamente. 

Impressões

A Trier, nesta viagem recente, não tive muita vontade de voltar, uma vez que já conhecia. É uma cidade grande, com pouco mais de 100 mil habitantes, e importante pela história, inclusive com termas deste período cujas ruínas se pode visitar.  Tem bastante estrutura,  regiões bem típicas e outras mais modernizadas. Vale a visita, mas sem dúvida não é a mais simpática deste roteiro, ainda que possa ser incluída se você estiver por lá. 

A cidade também é uma opção se você quiser incluir na viagem uma paradinha para compras. Mesmo com preços em euros, as lojinhas e mesmo as lojas de departamento alemãs são irresistíveis e, em períodos anteriores a festas como Natal e Páscoa, a quantidade de enfeites e objetos de decoração é uma verdadeira tentação. Se você quiser ter a inusitada experiência de pintar ovos cozidos na sua próxima Páscoa, por exemplo, ao estilo alemão, o que me traz deliciosas lembranças de tradições familiares com sabor de "casa de vó",  vai encontrar uma quantidade impressionante de tintas, lápis e canetas próprios para este fim, etc. Uma ideia para fazer com as crianças ou para presenteá-las com algo original! Portanto, um dia em Trier pode incluir um passeio pela parte histórica da cidade, se deparando com a Porta Nigra, que data de dois séculos antes de Cristo, quando da passagem dos romanos pela capital e as ruínas das termas romanas, mas considere acrescentar uma passadinha na parte comercial da cidade. É sempre uma experiência divertida. 

Bernkastel-Kues é uma cidade adorável e você chega a ela, partindo de Trier, após uma viagem de pouco menos de 50 quilômetros, que pode ser feita em aproximadamente 45 minutos. Isso se você não preferir fazer a viagem demorando um pouco mais, mas com o percurso todo às margens do Mosel. Vale a pena! Bernkastel-Kues é muito típica, com casinhas enxaimel e estreita relação com o Mosel, nas margens do qual se pode encontrar cisnes e outras aves. Bernkastel-Kues é, na verdade, um "combo" de duas cidades, que a denominam e cujas áreas são delimitadas pelo rio. No lado "Kues" se encontram muitas moradias, algumas atrações a visitar e comércio, mas Bernkastel é, efetivamente, a parte turística. Podendo, ficar deste lado sem dúvida possibilita uma experiência mais típica de inserção na cultura e arquitetura alemã. Uma "simples" caminhada pela cidade, já vale a visita. Há construções que datam do século XVII e um percurso por suas ruazinhas estreitas ou uma caminhada na margem do Mosel são muito agradáveis. A visita a cidade precisa incluir a Marktplatz, cercada por lojas, cafés e história, visto que as construções antigas e típicas trazem ao cenário a sensação de uma deliciosa volta no tempo. 


Nós tivemos a oportunidade de alugar um apartamento em um os prédios mais antigos da cidade, nesta praça, e é uma experiência que vale a pena. Minha filha até hoje se refere ao acontecimento como ficar "no apartamento do chão torto", mas, no inverno, você poderá viver a inacreditável experiência de abrir a janela e ver a neve caindo sobre telhados de construções históricas. Maravilhoso.

Também não pode faltar, num passeio a Bernkastel, uma caminhada na beira do Mosel e, quem sabe, leve pedacinhos de pão para as aves que passeiam por ali, pode ser divertido! Por perto, você poderá também visitar alguns museus, como o Moselle Wine Museum und Moselvinothek, onde também se pode adquirir o vinho para acompanhar o jantar!



Pois a cidade é cercada por vinhedos e é possível subir a pé, por entre estes, com uma caminhada de aproximadamente 20 minutos, até as ruínas de um antigo castelo, que também pode ser alcançado após um breve percurso de carro. 

O Burgruine Landshut vale a caminhada, pois embora nunca tenha sido restaurado, é imponente e oferece uma vista maravilhosa da cidade. O castelo foi construído sobre antigas ruínas romanas, em 1277, destruído em um incêndio em 1692 e, mesmo em ruínas, sua presença marca a paisagem da cidade. 

Partindo de Bernkastel-Kues, você chega a Cochem após uma viagem de aproximadamente uma hora. Se considerar que são pouco mais de 50 quilômetros e o tempo previsto para percorrê-los, da para entender que não é exatamente uma pista rápida. Só a viagem já valerá o passeio e, novamente, você pode optar também por fazer o percurso todo às margens do Mosel, sem com isso aumentar significativamente o tempo de viagem. Em pouco mais de 20 quilômetros, no caminho entre estas cidades, você chegará a Traben-Trarbach.


Esta cidade, de aproximadamente 5 mil habitantes, é famosa não só pelas ruínas do castelo Grevenburg, que você pode visitar, mas também pelas múltiplas adegas subterrâneas que, em dezembro, viram um inusitado conjunto de mercados natalinos, curiosamente dispersos em diferentes galerias e repletos de barraquinhas de artesanato e guloseimas. E claro, não falta o famoso Gluhwein, vinho quente com especiarias, parecido com nosso quentão e presente em todos os mercados de Natal. 

 

Cidadezinhas como Zell e Briedel também podem ser incluídas nas paradas entre Bernkastel-Kues e Cochem e proporcionar deliciosos passeios entre casinhas de enxaimel, ou na beira do rio. Nós visitamos estas cidades como um "bate e volta" de Cochem e encontramos até mesmo uma vinícola de um primo distante, o que me possibilitou a inusitada experiência de brindar, na ceia de Natal, algumas horas depois do passeio, com um vinho Melchiors. 

Também aproveitamos a orla, agradável e muito fotogênica, para uma caminhada muito gostosa, curtindo o solzinho de inverno e a companhia de cisnes!


Seguindo a rota do Mosel em direção a Koblenz, a próxima cidade importante, depois de Briedel e Zell, é Cochen. É pequenina, pouco mais de 5 mil habitantes, mas bem turística e uma boa opção como base para explorar a região se você quiser escolher apenas uma cidade pitoresca para a partir desta conhecer as demais. Até mesmo por se localizar geograficamente próxima da metade do percurso entre Trier e Koblenz, possibilitando excursões para as duas diferentes direções destas cidades, Cochem é uma alternativa interessante.

Como lá passaríamos o Natal e cientes da redução de opções turísticas no feriado e consequente dificuldade de conhecer tudo que pretendíamos pela região em poucos dias, escolhemos pernoitar na cidade 5 noites, alternando passeios locais pelo centro histórico e a orla (Moselpromenade) com pequenas excursões de carro para localidades próximas e seus charmosos mercados natalinos. Embora, sendo dezembro, o clima estivesse bastante frio, não tivemos neve em 2022, o que em parte foi uma pena, mas teria dificultado o deslocamento pela região, já que muitas estradas, embora em boas condições e muito agradáveis para um passeio, são simples, cheias de aclives e declives, e ficam mais difíceis de transitar nestas condições. 

Assim como Bernkastel-Kues, Cochem também tem seu castelo, o Reichsburg, construído lá pelo ano 1000, destruído pelas tropas francesas em 1689 e posteriormente reconstruído a partir de 1868. Nós fizemos a visita a ele após uma deliciosa subida a pé por uma pequena estrada que sai do centro da cidade, uma boa opção se você tiver algum tempo para deleitar-se com o passeio e aconselhável pois não há muitas vagas para estacionar lá em cima. 


Tivemos a sorte de percorrer o castelo na última visita guiada do dia, o que acabou resultando em um “tour privado" e nos possibilitou conhecer um pouco sua história e nos admirarmos com o fato de que escapou, praticamente intacto, dos bombardeios, na segunda guerra mundial.  O interior é decorado com peças que remetem aos tempos nobres do castelo e a visita é muito interessante.

Na noite de Natal, o castelo foi iluminado de forma alusiva à data e, da nossa janela, presenciamos o Mosel, coberto pela neblina de inverno e com ele ao fundo, além de sinos soando em comemoração. Mágico! 


Do castelo também se tem uma vista linda da cidade e do Mosel e, portanto, como nossa permanência na cidade foi relativamente longa, voltei a ele alguns dias depois, desta vez por uma rota partindo da orla e que descobri quase por acaso, pelo lado oposto ao qual havíamos subido anteriormente.


Já de volta ao centro histórico, uma voltinha pela Marktplatz, com suas múltiplas lojinhas, restaurantes e cafés e, em dezembro, barraquinhas de Natal, é um programa imperdível.  

Como a caminhada pelas margens do Mosel era parte do meu percurso do centrinho até o apartamente que havíamos alugado, pude saborear o contato com a paisagem à beira do rio em múltiplos momentos e, embora a região seja cheia de locais para visitar, esta atividade se tornou uma das minhas prediletas.

Partindo de Cochem também se pode visitar o Burg Eltz, considerado um dos mais belos castelos da Alemanha. É um trecho de pouco menos de 30 quilômetros, mas acabamos optando por não ir até ele pois não estaria aberto à visitação na época em que estivemos pela região. Vale conferir, costuma funcionar com visita guiada no verão, primavera e outono, mas fica fechado no inverno. Claro, se pode chegar até ele, mas sem dúvida o passeio ficaria prejudicado sem a visitação.

Nosso passeio pelas cidades da rota do Mosel terminou em Cochem, de lá seguimos para a Bélgica nesta viagem de 2022, mas o fim do percurso seria continuar do Burg Eltz em direção a Koblenz, que se alcançaria após uma viagem de aproximadamente 40 quilômetros a partir deste castelo. É uma cidade grande para os parâmetros alemães, com mais de 100 mil habitantes e, como ficava na "contra-mão" do nosso próximo destino, optamos por não conhecer, nesta viagem. Chegando a ela, alcançaríamos também o ponto em que o Mosel encontra o Reno, o que levou a cidade o ficar conhecida como "esquina do Reno".  Mas em uma roteiro mais especificamente voltado para a exploração da rota do Mosel, sem dúvida valeria a pena incluir Koblenz. 

Dependendo do seu ritmo e do seu objetivo, a rota do Mosel pode ser feita em poucos dias, até mesmo 3 ou 4, usando uma das cidades mencionadas como base, mas sem dúvida degustar o ritmo e mergulhar no encanto da região poderá ser bem mais interessante se você dedicar vários dias a esse passeio. Há muitos pontos turísticos importantes mas, mais do que tudo, caminhar pelas cidadezinhas e orla e sentir a vida tranquila às margens do rio, com paisagens surpreendentes a cada curva, torna a rota do Mosel especial. 

Dados de viagem realizada em dezembro de 2022, complementados por visitas anteriores à na região.

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