Normandia: uma região da França para viajantes de todos os estilos


A Normandia é uma região da França muito atraente para aqueles que querem aventurar-se pelo interior do país, partindo de Paris. Capaz de contemplar objetivos de uma ampla diversidade de estilos de viajantes e a curta distância da capital francesa, oferece cidades históricas, paisagens deslumbrantes e uma imersão deliciosa pela gastronomia local. Um passeio pela região não vai decepcionar os fotógrafos em busca de paisagens singulares, que vão encontrar lugares como o Mont Saint-Michel, as falésias de Étretat ou o Jardim de Monet. Para aqueles que gostam de cidades medievais há opções como Rouen, Bayeux e Honfleur. E, é claro, atende aos que querem desbravar diferentes cenários de importância fundamental na Segunda Guerra Mundial, sendo as praias nas quais se deu o Desembarque da Normandia - o famoso Dia D, o ponto alto neste sentido. Também há cidades litorâneas maravilhosas, para os que não perdem a oportunidade de aproveitar o contato com o mar e a areia. Claro, cabe dizer, neste sentido, que não são praias que tem como característica as temperaturas elevadas... E é sempre curioso ver nas lojas das cidadezinhas à beira mar e vestindo os veranistas, nas ruas, ampla variedade de casacos, mesmo durante o verão. Mas a beleza das praias é indiscutível, com muitas falésias e indescritíveis entardeceres, com direito a por do sol no oceano.
 

Se você busca especificamente um roteiro enfocando algum destes interesses, provavelmente viverá em um passeio pela Normandia uma experiência inesquecível e pode organizá-lo de forma a contemplar suas preferências nestes sentido. Mas se for um viajante que quer degustar um pouquinho de cada nuance desta região, certamente poderá encontrar, em diferentes locais, experiências diversas, mas com um sabor de França que torna a Normandia uma ótima alternativa para quem não quer viajar para muito longe de Paris, mas busca a oportunidade de circular pelo interior. 

A região abrange um número vasto de cidades e estive em algumas delas em diferentes viagens em família e com amigos, algumas vezes no inverno e outras no verão. Em alguns momentos em roteiros mais longos e em outros em pequenas "pitadas", mas sempre me deslocando de carro, que certamente não é indispensável em passeios pela região, mas facilita a circulação e cria a possibilidade de explorar locais não tão inequivocamente incluídos nos guias de turismo. Para este texto, utilizo como base um roteiro trilhado em 2023, em um grupo de quatro viajantes, complementado por informações e registros de viagens anteriores. Queríamos rever ou conhecer um pouco de tudo e atender aos interesses das duas adolescentes do grupo que estavam estudando, na escola, a Segunda Guerra Mundial. 

Um possível roteiro pela Normandia

Um roteiro pela Normandia, permitindo conhecer alguns dos principais locais da região, pode incluir o Jardim de Monet, cidades medievais como Bayeux, Caen e Rouen, localidades à beira mar como Deauville, Trouville e Honfleur, as praias do dia D (não muito distantes destas), as falésias de Étretat e, a meu ver imperdível, o Mont Saint-Michel, já na divisa com a Bretanha. De Paris ao Mont Saint-Michel, o ponto mais distante da capital francesa entre os mencionados, são 365 quilômetros, que se pode fazer tranquilamente em aproximadamente 4 horas de viagem. Os demais locais podem ser visitados em trajetos, digamos, no caminho, se você seguir pela costa (a exceção de Étretat, que exigiria um pequeno desvio de aproximadamente 40 quilômetros a partir de Honfleur).

 A viagem que realizamos em julho de 2023, de uma semana, abrangeu os principais locais entre os acima citados, deixando de fora Étretat, pela dificuldade logística e necessidade absoluta de fazer cortes para encaixar a viagem no tempo de que dispúnhamos e o Jardim de Monet (ao qual queríamos muito ter voltado), por um infeliz atraso ao errar uma estrada no caminho entre Rouen e Paris. Pegamos o local fechado para ingresso a menos de um minuto, mas nosso coro implorando piedade e uma exceção não funcionou. Eles são franceses e imunes, o jeito foi deixar uma nova visita para outra oportunidade... Ficou, portanto, o gostinho e a lembrança de uma viagem anterior, quando tive a oportunidade de conhecer o lugar e nele brincar com a então pitoca de 3 anos, de dividir a "propriedade" das flores que avistávamos entre nós duas e pude trocar fraldas enquanto apreciava a famosa pontezinha verde, ao lado de uma artista que pintava em sua tela a beleza do local. O registro abaixo devo a uma turista americana que circulava por lá e se encantou com minha florzinha e a possibilidade de retratá-la, brincando feliz pelo lugar, mas não muito disposta a posar para fotografias... 

A fim de contemplar todos os viajantes, com diferentes ambições e interesses de conhecer e revisitar locais, incluindo os principais, escolhemos nesta viagem 3 locais para pernoite e base para passeios (Cabourg, Mont Saint-Michel e Arromanches-les-Bains) e distribuímos a viagem da seguinte forma:

Dia 1: chegada à região e pernoite em Cabourg

Dia 2: passeios por Cabourg, Deauville, Trouville e Honfleur.

Dia 3: Visita a Caen e ao Memorial de Caen (um excelente museu enfocando a Segunda Guerra Mundial), chegada ao Mont Saint-Michel.

Dia 4: passeio pelo Mont Saint-Michel

Dia 5: Bayeux e sua famosa tapeçaria, deslocamento e visita a Arromanches-les-Bains

Dia 6: Musée du Débarquement em Arromanches-les-Bains, praias do Desembarque, Cemitério Americano em Colleville-sur-mer e Pointe du Hoc.

Dia 7: Visita a Rouen e retorno a Paris

Impressões sobre o roteiro e locais visitados

Nossa roteiro partiu diretamente do aeroporto Charles de Gaulle, pelo qual chegamos à França e no qual  alugamos um carro para a viagem para a Normandia. Pode parecer cansativo, visto que dirigimos mais de duas horas após uma viagem internacional, mas havíamos pesquisado antes e as estradas eram super bem avaliadas e pareciam tranquilas no horário que iríamos percorre-las. Não nos decepcionaram. Além disso, estávamos em duas motoristas, no grupo, era feriado (o que nos permitiu nos desvencilharmos logo do trânsito parisiense) e, sendo verão, contamos com dias longos, o que evitou a noite ainda na estrada. O dia da chegada, portanto, terminamos com um final de tarde maravilhoso, quase as 22h, já na beira do mar, em Cabourg. Para completar, a noite trouxe um show de fogos de artifícios, já que chegamos à França em pleno 14 de julho. Um espetáculo e tanto!

Cabourg é um destino frequente de parisienses em "escapadas" mais curtas e, portanto, localidade turística bem típica neste sentido. Não é uma cidade tão frequentemente incluída nos roteiros de brasileiros pela França, mas não resistimos à tentação de mergulhar numa viagem pela Belle Époque e cenários que inspiraram Michel Proust a escrever “Em busca do tempo perdido" (que, aliás, tentei ler, mas confesso que me venceu pelo caminho). 

O traçado de Cabourg enfatiza, com ruas partindo deste, o famoso Grand Hôtel, no qual Proust costumava se hospedar e nós também escolhemos como local para dois pernoites, sem dúvida à custa de cortes em outros locais para viabilizar o orçamento da viagem. Não é nada barato, mas vale a experiência, acordar em seus antigos quartos (devidamente modernizados no que diz respeito à estrutura e comodidades) é uma sensação e tanto. Não é impossível hospedar-se no quarto que Proust ocupava. Mas não tivemos esta oportunidade!

Também escolhemos Cabourg como nossa primeira parada pois buscamos locais em que pudéssemos encontrar edições dos mercados típicos de verão, espalhados por diferentes cidades em datas variadas. O "Marché du eté" que pudemos, assim, visitar em Cabourg, contava com barraquinhas de artesanato, gastronomia típica, produtos diversos da região e música ao ar livre. Uma delícia, um clima muito alegre, vale a pena pesquisar, se você for no verão, para visitar alguns destes mercados. Aliás, uma característica do verão europeu, também em outros países.

A cidade me encantou, e foi uma base interessante para passeios locais, algumas horas tranquilas na praia (ao melhor estilo da Normandia, de mangas compridas e enfrentando um ventinho frio, mesmo no auge do verão) e pequenas viagens para localidade próximas. Tomar uma cidra, na praia, de frente para o mar, ao final da noite, com a experiência imersiva de estar na frente deste hotel que transpira ares de outra época, é impressionante.

Proust, sem dúvida, paira no imaginário da cidade e menções a ele fazem parte das denominações de vários estabelecimentos, mas sua memória recebeu uma homenagem especial no museu "La Villa du temps retrouvé", com decoração, fotos e objetos relembrando a época do autor, além de uma imagem em tamanho real do mesmo. O local é super simpático, tranquilo e eu aproveitei até mesmo para tocar piano, disponível ali para quem quisesse se aventurar, atividade da qual sempre tenho muita saudade quando viajo... escolhi uma obra da época, é claro!

 

Cumprida esta visita, Cabourg vale pelo sabor da cidade em si. O que mais gostei de fazer foi caminhar pela orla e pelo centrinho, inclusive acordando bem cedo e encontrando as filas para o pão saído do forno na hora, na padaria, e o mercado, com seus produtos frescos, recém aberto. Ótima caminhada. 

De Cabourg, fizemos um passeio a Deauville e Trouville, essas sim mais frequentes nos roteiros turísticos e exalando sofisticação, além de uma quantidade enorme de pessoas aproveitando as férias de verão. Interessantes, mas a passada pelos pequenos lugarejos, no caminho, para mim foi mais atraente.

Também visitamos, a esta sim dedicando um pouco mais de tempo, Honfleur, cidade portuária que ganhou notoriedade pela preferência de impressionistas, que a retrataram em alguns momentos. Eugène Boudin chegou inclusive a morar por lá. A cidade, também, é o local de nascimento do compositor  Erik Satie, de quem sou grande fã, contando com um museu sobre o mesmo que tentei visitar mas sem grande planejamento para incluir no passeio, de modo que o encontrei fechado há alguns minutos. 

Estacionamos perto do Porto de Vieux Bassin, com suas casinhas típicas, sons e cheiros de mar, e exploramos a cidade a pé, passando pela parte mais antiga, cheia de turistas nesta época, e seu intenso comércio local. Terminamos o passeio de volta ao porto, onde aproveitamos para saborear uma refeição com a gastronomia típica local. Obviamente, abundante em frutos do mar.

Após deixar Cabourg, nossa próxima parada foi em Caen. Já havia estado lá anteriormente e, desta vez, nosso principal objetivo com a visita era conhecer o Mémorial de Caen, adentrando mais especificamente na história da Segunda Guerra Mundial, que as meninas pretendiam conhecer melhor. O acervo é excelente e o museu vale a visita. Ficamos algumas horas por lá.

Mas nosso objetivo principal, neste dia, era chegar ao Mont Saint-Michel, onde pernoitaríamos as duas próximas noites. Mais do que qualquer outro, este é um local imperdível em uma viagem à Normandia. Já tinha estado lá outras vezes, no inverno e verão, e é surpreendente como cada visita me trouxe o caráter de novidade. O local é o cenário do filme "O Ponto de Mutação" (Mindwalk), de Bernt Capra e, portanto, você pode assistir a este se quiser acompanhar os personagens discutindo filosofia da ciência e passeando por ali. Gosto muito deste filme e recomendo muito, desde que, é claro, não se espere do mesmo uma experiência “hollywoodiana”. É para ver com calma, assim como uma visita ao local também merece ser feita. E, em um contexto mais lúdico, o local também é a inspiração para o Reino da Rapunzel na versão da Disney.

O Mont Saint-Michel é uma ilhota no meio de uma baía, sobre a qual se encontram construções que datam desde o século X, e tem em uma abadia, dedicada ao santo que lhe da nome, o principal ponto de visitação. Conforme as marés, a ilha fica cercada de água ou um imenso banhado, ao qual, curiosamente, se fazem excursões que, se forem seu objetivo, devem ser acompanhadas por um guia, dizem que é bastante perigoso aventurar-se sem o devido conhecimento do local. A perspectiva de caminhar durante horas por um pântano, com água até a cintura e areia movediça, definitivamente não me atrai, mas houve no grupo quem fizesse planos para voltar ao local no futuro e viver a experiência. Pra ver que é uma opção… 


Na ilha, hoje em dia já não se pode chegar de carro, visto que o antigo estacionamento, na base,  resultou em alguns acidentes no passado, com as subidas das marés. Portanto, a alternativa é deixá-lo em estacionamentos próximos (cujos preços, diga-se de passagem, são bastante salgados) e pegar, a partir de um ponto próximo deles, as "Navettes", ônibus gratuitos que deixam os turistas na passagem entre o continente e a entrada da vila e funcionam durante o dia e início da noite. 


Dentro das muralhas, há uma efervescência turística, seja inverno ou verão, e inúmeros locais a visitar, além de restaurantes, lojas, galerias de arte e hotéis. Chegar a estes últimos, em sua maioria dispersos pela Grande Rue, exige uma breve caminhada em aclive, portanto, prepare-se para a missão. Já pernoitei dentro e fora da ilha e acho que vale muito a pena conseguir um hotel no próprio Mont Saint-Michel. Embora sem dúvida mais caros, a experiência de estar, à noite, em um local assim, é muito impactante e depois do fechamento do comércio e interrupção dos translados de ônibus, a quantidade de turistas diminui significativamente e o passeio fica muito mais tranquilo. Nós, inclusive, após assistirmos a um por-do sol deslumbrante no mar e jantarmos em um dos tantos restaurantes, resolvemos caminhar à noite pela ilha. Quase se pode ouvir os sons e ecos de outras épocas... vamos dizer que seja nossa imaginação!

Por outro lado, ficar em um hotel fora das muralhas permite ver o local por fora, todo iluminado, à noite, experiência que também é interessante e pode ser vivida (ao menos de uma distância mais próxima) também se você estiver na ilha em um dia em que a maré esteja baixa, quando então será possível caminhar ao redor dela, como pudemos fazer. 


Pernoitar fora da ilha também evitará, é claro, o deslocamento com malas. A escolher, conforme seu estilo e objetivos. Nós fizemos mochilas com apenas ao necessário para os dias que permaneceríamos no local, o que facilitou o trajeto até o hotel que tínhamos escolhido. Mas mesmo assim, a caminhada do ponto em que se deixa as Navettes até qualquer um dos hotéis não é tão pequena, com bagagem.

No dia seguinte, visitamos a abadia e outros locais turísticos (e religiosos, visto que o a ilha é, também, local de peregrinação) e, principalmente, caminhamos muito, subindo e descendo escadinhas na busca por recantos e paisagens pitorescas e nos aventurando também pela areia próxima da ilha, neste dia com a maré baixa, como mencionei. O Mont Saint-Michel é um local incrível ao qual sempre vale rever!

Nosso destino seguinte, Bayeux, gerou caminhadas muito agradáveis pela cidade, grande interesse nos adultos do grupos e múltiplas risadas das adolescentes, que consideraram certa perda de tempo dedicar horas de uma viagem a ver "tapetes velhos". Mas a Tapeçaria de Bayeux é uma das obras principais a conhecer na Normandia, com bordados de quase 1000 anos, que retratam a história da região, com destaque especial para os feitos de "Guilherme, o conquistador". O Musée de la Tapisserie de Bayeux vale a visita. Bem, ao menos assim concluíram os adultos do grupo.

De Bayeux, partimos para Arromanches-les-Bains, nossa última "base" na Normandia e, aí sim, especificamente destinada aos diversos passeios que a região oferece em alusão ao fato de ter sido um importante cenário na Segunda Guerra Mundial. Sob o codinome "Gold", a pequena cidade foi um dos cinco locais utilizados para o desembarque (cujos nomes franceses foram "rebatizados" na operação como Omaha, Utah, Juno, Sword e Gold). 

Para a imersão na história deste trágico episódio, além das aulas da matéria, é claro, alguns filmes ajudam. Entre estes, vale assistir a série "Band of Brothers", baseada no livro de Stephen Ambrose e cujos produtores incluem Steven Spielberg e Tom Hanks, que conta a história dos paraquedistas americanos que participaram do Dia D - também conhecido como "Operação Overlord" e seguem sua jornada pela Europa na luta contra Hitler e os países do "Eixo", e o filme "O Resgate do Soldado Ryan", também com Spielberg no time de produtores e, desta vez, Tom Hanks no elenco. Qualquer pessoa que já assistiu a um destes não deixa de lembrar de algumas cenas ao circular pela região e o contraste entre ela hoje e o que deve ter sido durante o sangrento acontecimento histórico é impactante. Sem dúvida, vale preparar-se para a visita a estes locais também com algumas leituras e informações. E, claro, se a importância do Dia D na vitória dos "Aliados" no conflito segue polêmica, é fato que a operação foi relevante e o número de envolvidos (e vítimas) estarrecedor.

Da praia, em Arromaches-les-Bains, é possível ainda avistar muitas partes do "Porto Mulberry", estruturas desenvolvidas para possibilitar o desembarque dos aliados na região. Utilizados como forma de fazer chegar em terra equipamentos pesados e suprimentos, eles continuam presentes, bem como outras estruturas militares espalhadas pela areia da praia, e reforçam a cidade como palco importante do conflito histórico. 

Na praça central da cidade, se encontra o Musée du Débarquement, um dos melhores dedicados ao tema. Importante planejar uma visita com tempo, nós permanecemos nele várias horas e ainda faltou muito por ver.

Outro local impactante, a visitar, considerando o contexto da guerra, é o Normandy American Cemetery, em Colleville-sur-mer, cidade cujo nome de código na Operação Overlord foi Omaha Beach. O cemitério, concessão da França aos Estados Unidos,  com suas quase 10 mil cruzes, que marcam os túmulos de soldados americanos vitimados no desembarque e menção também aos desaparecidos, traz bem a dimensão das perdas humanas resultantes desta operação militar. 

Já tinha estado lá anteriormente e o impacto que me provoca é tão grande que teria preferido não voltar nesta viagem, mas acompanhei o grupo, visto que os demais não o conheciam e tive, na visita, uma grata surpresa, ao descobrir que (para variar) o último tour guiado já havia encerrado mas, o super querido guia que nos atendeu, Guillaume, estava disposto a nos esclarecer o que precisássemos sobre a história do local. Não perdi a oportunidade, começamos a conversar e, quando mencionei minha formação "psi", ele passou a nos contar sobre a história de Elizabeth Richardson, uma das 4 sepulturas de mulheres, entre as quase 10 mil masculinas. No cenário de guerra em que atuou (e perdeu a vida), esta americana desempenhou a surpreendente tarefa de escutar... enquanto servia refeições e se ocupava de outras tarefas, oferecia aos soldados também espaço para falarem de suas duras experiências e, com isso, ajudou muitos deles a suportar o cotidiano trágico da guerra. Guillaume nos levou até o túmulo dela e me emocionei muito...


De lá, dirigimos aproximadamente 20 minutos até o Pointe du Hoc, uma espécie de platô que, no período que antecedeu o Desembarque, estava preparado pelos alemães como um ponto de defesa em caso de invasão. Entre as praias então denominadas Omaha Beach e Utah Beach, hoje é, pode-se dizer, um museu a céu aberto, onde ainda estão preservados resquícios de estruturas militares, como bunkers e casamatas e enormes crateras formadas no bombardeio que o local sofreu no Dia D e operação a ele relacionada. A beleza do local, com as praias e falésias que se pode avistar e, na época, foram escaladas pelos soldados "aliados" com equipamentos de alpinismo, mais uma vez contrasta com seu papel dramático e sangrento na história. Não dá para estar lá e não imaginar o que deve ter sido, para os soldados alemães que estavam no local, ver surgir, no oceano, a quantidade de navios que caracterizaram a invasão e desembarque... 

 

Já retornando a Arromanches-les-Bains, visitamos, ainda, em Saint-Laurent-sur Mer, na Operação Overlord denominada Omaha Beach, o monumento Les Braves, dedicado aos que perderam suas vidas na Segunda Guerra. Um pequeno desvio entre o Pointe du Hoc e o cemitério, se se quiser organizar desta forma, chegando até a praia.


Aproveitamos a "descida" até a beira mar, ainda, para um excelente momento experimentando a gastronomia local, acompanhada por uma cidra da região (um pequeno consumo de alcool é permitido a motoristas, na França, dá para experimentar uma taça de vinho ou outro fermentado similar sem problemas), enquanto assistíamos a um lindo por-do-sol no oceano, um luxo destas redondezas e que no Brasil a gente em geral não tem a oportunidade de presenciar.


Também vivemos a inusitada experiência de verificar que o combustível do carro estava no finalzinho e não havia qualquer posto de gasolina nas proximidades imediatas, de modo que conhecemos uma funcionalidade do automóvel em que todas as luzes e sinais possíveis avisavam o problema e o GPS, automaticamente, passou a sinalizar locais para abastecimento. Acabamos conseguindo chegar a um e é sempre uma experiência inusitada abastecer o próprio automóvel, coisa que não é complicada mas se precisa aprender a fazer para dirigir pela Europa. Mas a gente encontra auxílio nos estabelecimentos se necessário, nada que gere realmente dificuldades. Em todo caso, um cuidado a ter: os postos de combustível não são tão disponíveis na região quanto a gente normalmente esperaria encontrar. Foi necessário trilhar alguns quilômetros para encontrar um e sempre um susto e tensão a perspectiva de ficar sem gasolina em uma estradinha francesa!

No dia seguinte, já no caminho de volta para Paris, paramos em Rouen. Minha relação com esta cidade é estranha. Preciso dizer que é singular, pois ela é, de modo geral, considerada bonita e atraente para os visitantes. Mas eu estive lá 3 vezes e nunca realmente me encantou. A cidade tem pouco mais de 110 mil habitantes, portanto grande para os padrões europeus. Entretanto, para conhecer os principais pontos turísticos, um dia é suficiente.

A catedral, Notre Dame, é muito bonita e, para aqueles a quem o impressionismo impacta especialmente, imperdível, visto que ficou famosa pelos registros que ganhou, retratada em horas diferentes do dia e do ano, nas pinturas de Claude Monet. Mas ainda que mais famosa pelo seu exterior, vale uma visita! A entrada é gratuita e, além de uma arquitetura gótica típica, você encontrará em seu interior túmulos de importantes personagens da histórica, como Ricardo Coração de Leão.


Os demais pontos turísticos de Rouen são próximos da catedral, deixamos o carro em um dos múltiplos estacionamentos com parquímetro nas imediações e percorremos os locais que queríamos conhecer na cidade a pé. Como muitas ruas são apenas para pedestres, esta é uma ótima opção e permitirá transitar pelo centro histórico entre construções medievais e muita história.

A uma caminhada de cerca de 10 minutos da catedral, encontramos a Place du Vieux-Marché, com seus restaurantes e lojas e a Église Sainte-Jeanne-d'Arc, moderna, dedicada a esta importante santa e heroína francesa e demarcando o local em que a mesma foi queimada, em 1431, após condenação por sua marcante participação na Guerra dos 100 anos. Você passará, no caminho, pela Rue de Gros Horloge, literalmente a rua do grande relógio, que ilustra a maior parte dos guias turísticos da cidade. Construído no século XIV, a obra que lhe dá nome é um relógio astronômico belíssimo, impressionante e inusitado.

 

Após percorrer este itinerário, fomos visitar ainda o Historial Jeanne D'Arc, onde encontramos um espaço multimídia dedicado a esta, sua participação na história da França, julgamento e execução. Interessante e instrutivo, embora um pouco cansativo pela forma como são apresentados os episódios da vida da heroína, com a circulação do visitante por diferentes salas com projeções e narrações.

Haveria ainda outros locais a visitar mas tínhamos tempo limitado e, assim, encerramos no Historial nossa visita a Rouen e a Normandia, seguindo para Paris. Nossa parada no Jardim de Monet não foi possível, como comentei anteriormente, mas sem dúvida a possibilidade de incluí-la no percurso é interessante. Giverny é praticamente caminho de Rouen para Paris.

Nosso roteiro teve cidades escolhidas com base na importância histórica, paisagens, arquitetura e facilidade de deslocamento entre elas. Portanto, um entre diversos outros possíveis a se elaborar. A Normandia é encantadora e, assim como em outras viagens, deixei a região com vontade de retornar, revisitando alguns locais, como Le Havre e conhecendo outros aos quais não conseguimos ir desta vez, como Étretat e Dinant. Tanto no inverno quanto no verão, as temperaturas não costumam ser extremas e a Normandia é uma escolha interessante e relativamente próxima de Paris. Muitos dos locais que conhecemos, são, de fato, pontos explorados em visitas de um dia a partir da capital francesa e, para quem tem pouco tempo, um "bate e volta" pode ser uma opção. Mas uma visita de uma semana, como fizemos, ou de mais dias, é muito mais interessante, se possível. Uma super opção para incluir uma "pitada" de interior da França em uma viagem. Nós não conseguimos visitar o Jardim de Monet mas, em compensação, nos deparamos, nos arredores deste e um pouco frustradas pelo imprevisto ao tentar chegar a ele, com enormes plantações de girassol. Paramos o carro e degustamos a experiência de caminhar por entre as fotogênicas flores!


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